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Taxa de exclusão de pessoas em consórcios alcança os 50%

Estevão Taiar

O número persistentemente alto de pessoas excluídas de consórcios vem chamando a atenção do Banco Central (BC) e das empresas administradoras. No último trimestre do ano passado, o índice de exclusão chegou a 50,3%, de acordo com o Panorama de Sistema de Consórcios, divulgado recentemente pelo BC. Isso representa um total de 7,3 milhões de cotas excluídas.

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Na prática, “metade dos consorciados não consegue adquirir o bem desejado”, diz a autoridade monetária. Apesar de a maior parte dos valores ser eventualmente restituída, o quadro causa transtornos tanto para administradores quanto para consorciados. Além disso, contrasta com o bom desempenho apresentado pelos consórcios nos últimos anos, quando analisados por outros critérios.

Historicamente, o índice de exclusão é alto. Entre o último trimestre de 2014 e o último trimestre do ano passado, a exclusão média ficou em 49,8%. Entre 2011 e 2013, portanto antes da crise econômica, a média era pouco menor, de 47%.

“[Esse é um] aspecto que deve ser trabalhado pelas administradoras, no intuito de reduzir esse índice”, diz o BC. Entram na conta pessoas que pediram à própria administradora para deixar o grupo ou que simplesmente pararam de pagar as parcelas.

Na divisão entre os dois segmentos principais, o consórcio imobiliário lidera o indicador, com 62,7% (ou 1,5 milhão de cotas) de exclusão no último trimestre de 2018. Na sequência, vêm os automóveis, com índice de 45,6% (ou 3,07 milhões).

Para a autoridade monetária, “uma série de características particulares” atrapalham a compreensão do público sobre como funcionam os consórcios. Entre elas, estão “a imprevisibilidade” da data em que o consorciado será contemplado ou o desconhecimento a respeito da contemplação por lance – considerada mais complexa do que a modalidade por sorteio. Um agravante, de acordo com o BC, é o fato de consórcios serem usados em sua maioria por pessoas físicas, “que normalmente possuem menor capacidade de planejamento financeiro”.

A chave para a queda dos índices, tanto na visão do BC quanto na das administradoras, está justamente na educação financeira. “São necessários alguns aprimoramentos e uma maior divulgação das características peculiares do segmento, visando a uma compreensão melhor pelos consumidores”, diz a autoridade monetária. O órgão destaca que os índices de exclusão normalmente causam danos maiores nos períodos iniciais dos contratos. Isso porque em geral levam a “perdas consideráveis para o consorciado excluído, como a cobrança de multas rescisórias e a demora para restituir os valores já pagos”.

Também na avaliação da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac), falta conhecimento para os consumidores a respeito das regras. “Não dá para encarar o consórcio como loteria”, diz Paulo Roberto Rossi, presidente da entidade.

Até 2009, quem desistia ou era excluído ia automaticamente para o fim da fila, só recebendo o que havia desembolsado quando todos os consorciados já tivessem sido contemplados. De lá para cá, entretanto, uma lei estabeleceu que os valores sejam restituídos por sorteio, como se o consorciado não tivesse sido excluído.

A principal consequência negativa do alto índice de exclusão é o encarecimento da taxa final paga pelos consorciados, de acordo com William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com o objetivo de diminuir o indicador, a Abac lançou, entre outras medidas, um curso de certificação para a venda de consórcios, em outubro do ano passado. A entidade estabeleceu como meta que 40% dos vendedores de todo o país já estejam certificados em 2021 e que 100% tenham o diploma em 2023.

Entretanto, Rossi também destaca os amplos prazos de financiamento como um fator que, somado ao desconhecimento das regras, aumenta as exclusões. No caso dos imóveis, por exemplo, o prazo médio de financiamento é de 14 anos e quatro meses. Por isso, ele se mostra cético em relação a uma possível queda brusca dos índices de exclusão. “É um trabalho muito grande”, afirma. O órgão não tem uma estimativa do prejuízo anual para as administradoras causado pelas exclusões.

Eid, da FGV, também não acredita em quedas consideráveis do indicador. “O brasileiro usa e abusa do crédito, administra mal, não olha taxa de juros”, diz. Como o consórcio existe em outros poucos países, não há grandes exemplos pelos quais o Brasil pode se guiar, segundo ele. Mas a experiência internacional mostra que investimentos em educação financeira geram poucos resultados, acrescenta.

Sob outros critérios, no entanto, os consórcios vêm apresentando bom desempenho. A carteira do sistema atingiu R$ 51,45 bilhões no ano passado, crescimento de 5,8% em relação a 2017. Já o número de cotas comercializadas no ano subiu 9,1%, chegando a 2,58 milhões.

Fonte: Valor Econômico

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