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Naufraga a tentativa de fusão entre BRF e Marfrig

Luiz Henrique Mendes

A fusão entre BRF e Marfrig naufragou. Menos de dois meses após as empresas anunciarem um acordo para negociar uma combinação que criaria uma gigante de carnes com faturamento anual de R$ 80 bilhões, as empresas encerraram as conversas. Divergências em torno da governança corporativa travaram a continuidade das tratativas.

Conforme o Valor apurou, a influência que o empresário Marcos Molina, fundador e principal acionista da Marfrig, pretendia ter na empresa resultante da fusão não foi bem aceita. Desde que as negociações foram anunciadas, em maio, essa era uma das grandes dúvidas no mercado. Fontes que conhecem o empresário sempre demonstraram ceticismo com a possibilidade de Molina ficar com apenas 5,5% do capital da nova empresa, sem poder para definir os rumos do negócio. Na Marfrig, ele detém cerca de 35% das ações e é, na prática, quem dá as cartas. Pelo modelo anunciado em maio pelas duas empresas, os acionistas da BRF teriam 85% da nova companhia, ao passo que os da Marfrig ficariam com os 15% restantes.

O anúncio de que a fusão foi frustrada veio antes do esperado, mas evitará que a BRF tenha gastos adicionais com as auditorias. Em maio, quando anunciaram o acordo de exclusividade para avaliar a fusão, as duas empresas informaram que as negociações ocorreriam por 90 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. As conversas poderiam ir até setembro.

Na BRF, a proposta de fusão encontrava resistência em importantes acionistas, como os fundos de pensão Petros e Previ – que, juntos, têm cerca de 20% do capital. No conselho de administração, a fusão também não era unanimidade. Parte do colegiado não via lógica no movimento de produzir carne bovina, segmento de margens mais baixas que as dos negócios de alimentos processados. Uma vertente, no entanto, parecia se inspirar na JBS, que produz todas as proteínas (aves, suínos e bovinos) em diversas regiões do mundo.

À Comissão de Valores Mobiliários (CVM), BRF e Marfrig informaram que, apesar de não terem chegado a um acordo para a governança da nova companhia, as relações contratuais entre ambas continuarão normais. A principal delas é um contrato de fornecimento de hambúrguer firmado em dezembro, quando a empresa da Marcos Molina comprou a fábrica de hambúrguer de Várzea Grande (MT), por R$ 100 milhões. Ao fechar o negócio, a Marfrig passou a produzir o hambúrguer para as marcas Sadia e Perdigão, líderes nesse mercado.

Ao encerrarem as conversas, BRF e Marfrig terão que trabalhar um discurso palatável aos investidores. De certa forma, as negociações para a fusão representaram um ruído na comunicação de ambas. Na BRF, o agora presidente do conselho de administração, Pedro Parente, e o CEO Lorival Luz vinham dizendo que não haveria golpe de mágica no processo de reestruturação da empresa, ainda muito endividada. Quando comunicaram a possível fusão, porém, muitos analistas interpretaram como um movimento para que a BRF cumprisse as metas de redução do índice de alavancagem – a Marfrig é menos endividada.

No caso da Marfrig, as conversas para a fusão acenderam o alerta em muitos investidores sobre a instabilidade estratégica da companhia – que, depois de muitos anos queimando caixa, parecia ter iniciado no ano passado uma nova era, com a venda da Keystone Foods, forte em frango, e a compra da National Beef, quarto maior produtor frigorífico dos EUA. O discurso era de “simplicidade” nas operações, com foco em carne bovina.

Fonte: Valor Econômico

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