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Mesmo depois do fim da pandemia, o hábito de trabalhar de casa será cada vez mais comum. É o que indica pesquisa realizada no início deste semestre pela consultoria Aon, com 277 companhias no Brasil: 77,3% querem alternar a ida dos colaboradores ao escritório com o teletrabalho. Os últimos meses do ano serão usados como período de planejamento: três em cada dez organizações ainda não definiram quem continuará a distância quando o distanciamento social for relaxado.

“Há uma tendência de o home office tornar-se uma prática das corporações no futuro, mas 33,3% delas não têm certeza sobre quantos funcionários ficarão em casa”, diz Paulo Jorge Cardoso, vice-presidente executivo de saúde e benefícios da Aon Brasil.

Cardoso destaca que 34% das organizações pretendem oferecer a opção do trabalho remoto para todos os colaboradores e 2,9% decidiram pelo home office em tempo integral. No modelo alternado entre casa e escritório, 20,6% estudam se a semana terá dois dias remotos, ante 18,4% que planejam três dias a distancia.

A infraestrutura de tecnologia é o ponto que mais impacta a capacidade das chefias de estabelecer regras definitivas sobre o expediente longe das empresas, explica o especialista. Para não comprometer a produtividade dos colaboradores, 56% das firmas estão investindo em melhores ferramentas tecnológicas, oferecem treinamentos (37%) e criam normas para o horário do almoço e o término do expediente (18%).

Na VR Benefícios, empresa de vale-alimentação com 520 colaboradores, os escritórios foram fechados em 17 de março, mas o modelo de teletrabalho já era usado há dois anos. “Desde 2018, incentivávamos os funcionários a ficarem remotos pelo menos uma vez na semana”, diz João Altman, diretor executivo de recursos humanos. Ainda sem data definida, a volta das equipes está prevista para 2021.

Uma das principais preocupações do grupo, que conseguiu ficar 100% on-line, é manter a saúde física e mental do quadro. Para isso, além de investir no envio de mobiliário e equipamentos para os funcionários, contratou aulas “ao vivo” de ginástica e alongamento para incentivar a prática diária de exercícios físicos e convocou uma profissional de saúde, que conversa frequentemente com os colaboradores.

Renato Teixeira, diretor executivo de tecnologia da VR Benefícios, afirma que como os funcionários já estavam acostumados a atuar de casa, não foi difícil transmitir confiança nessa nova fase. Além de sistemas de acesso seguro, ganharam um helpdesk (serviço de apoio) para tirar dúvidas e ferramentas de colaboração ampliadas, com recursos de videoconferência. Nas primeiras três semanas de quarentena, o uso dos chats on-line entre as equipes cresceu nove vezes e o de vídeochamadas aumentou seis.

A VR Benefícios já está repensando a necessidade do escritório para todos. “O home office foi muito melhor do que imaginávamos e algumas funções não precisam necessariamente voltar para a empresa”, diz Altman.

No digio, banco digital do Bradesco e Banco do Brasil, os 250 colaboradores deixaram a sede de Alphaville, em Barueri (SP), no dia 19 de março e ainda não voltaram. A pandemia trouxe a certeza de que essa prática é parte da nossa cultura corporativa e o caminho é aumentar a quantidade de dias no home office, avalia Beatriz Nóbrega, superintendente de gente, gestão e experiência do cliente.

Antes da covid-19, o banco já funcionava com escala de home office para 20% do quadro uma vez por semana, e agora avalia novas modalidades, de dois a cinco dias remotos, dependendo das atividades. Ao mesmo tempo, o planejamento de uma volta escalonada, por grupos, é estudado.

“No geral, a produtividade ficou maior no home office”, diz Beatriz. No segundo quadrimestre, o digio realizou 244% mais entregas de produtos e serviços para clientes do que nos primeiros quatro meses do ano – 18% da equipe da instituição foram contratados durante o isolamento social.

Na TecBan, dona da rede Banco24Horas, a performance dos funcionários também não arrefeceu com a distância física. Pesquisa interna feita em agosto revela que 91% estão totalmente adaptados ao trabalho remoto e 92% conseguem manter, normalmente, a interação com a liderança e colegas. Sobre uma possível volta aos escritórios, 43% dizem que ainda se sentem muito desconfortáveis, por conta do aumento da exposição e risco de contrair o vírus (65%), por causa do contato com pessoas que não respeitam o isolamento (54%) e pelo uso do transporte público (42%).

A TecBan estuda um modelo híbrido de trabalho, mas não há motivo de pressa para o retorno, diz Marcelo Gomes, diretor de administração, finanças e RH. O grupo tem mais de seis mil funcionários em 12 laboratórios de revitalização de caixas eletrônicos, 20 centros de distribuição e 16 postos de logística, além de 30 bases de distribuição de dinheiro e escritórios. Praticamente 100% dos funcionários administrativos, ou mais de mil colaboradores, permanecem longe das suas mesas. “A preocupação é com a saúde dos times”, diz. “Metas podem ser atingidas sem que todos estejam em um mesmo espaço físico.”

Na Vivo, com 33 mil colaboradores, uma das estratégias para apoiar a nova rotina doméstica da força de trabalho foi montar uma bateria de conteúdos na rede social interna. Inclui lives de especialistas sobre como conciliar os filhos com o home office ou lidar com a solidão na quarentena, além de cursos sobre liderança e inteligência emocional, diz Niva Ribeiro, vice-presidente de pessoas.

No início da crise, cerca de 20 mil funcionários foram para o home office. Hoje, 80% das mais de cem cidades onde a Vivo mantém escritórios tiveram as atividades retomadas ou aguardam um regresso planejado, respeitando protocolos de saúde e decretos dos governos. Haverá nas empresas uma moderação entre o expediente remoto e o presencial, diz Niva. “O ano de 2020 sinaliza que quem conseguir encontrar esse equilíbrio poderá fazer a diferença tanto na experiência dos colaboradores, quanto na geração de valor para os negócios.”

Fonte: Valor Econômico

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