Molina busca capital para fusão com BRF
Maria Luíza Filgueiras e Fernando Lopes
O empresário Marcos Molina, principal acionista e presidente do conselho de administração da Marfrig, iniciou nesta semana conversas com potenciais interessados em algumas unidades da companhia, apurou o Valor. Em meio às negociações com a BRF, mirando uma fusão que criaria a quarta maior empresas de carnes do mundo, com faturamento da ordem de R$ 80 bilhões por ano, Molina estaria em busca de R$ 2 bilhões com as vendas de ativos.
Paralelamente, afirmam fontes consultadas pela reportagem, Molina também estaria em busca de uma linha de crédito para comprar mais ações após a criação da nova companhia e fortalecer sua posição acionária individual no resultado da fusão. Pelos termos atuais, ele terá 5,5%.
“Molina está no modo ‘tudo ao mesmo tempo agora’. Ele quer assegurar que não terá obstáculos, de sua parte, para a fusão e que, na empresa resultante, terá posição relevante”, descreveu uma fonte próxima à operação.
Quatro fontes afirmaram que Molina já ofereceu um ativo no Uruguai ao grupo chinês Fosun e tratou, em reunião preliminar, sobre a venda de plantas em São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com dois grupos brasileiros. Um desses grupos seria a JBS. Nem Molina nem a Marfrig comentaram a informação. Procurada, a JBS não se manifestou, mas uma fonte ligada à companhia negou a informação. A Fosun não respondeu.
Segundo as fontes que chamaram a atenção para as conversas iniciadas por Molina, os recursos obtidos com a venda de ativos serviriam para compor o pagamento da “put” (opção de venda de ações) que os acionistas da americana National Beef tem com a Marfrig, sua controladora.
Uma das pessoas com conhecimento do assunto afirmou que Molina teria se comprometido com a BRF a solucionar a questão financeira da “put”. Essas fontes dizem que a “put” pode ser exercida em caso de troca de controle da Marfrig – e, como na empresa resultante da fusão, a BRF terá a maior parte da composição de capital, configuraria essa mudança.
Esse capital seria uma garantia extra, uma vez que a companhia acredita que a cláusula será negociada e que os acionistas minoritários da National Beef terão interesse em ficar na nova companhia. “O Marcos diz que a ‘put’ não será disparada, porque ninguém vai assumir mais de 50% da Marfrig, e está confiante de que os sócios na National Beef vão gostar da fusão”, disse um interlocutor do empresário.
A Marfrig anunciou a aquisição de 51% da National Beef em abril do ano passado, por cerca de US$ 1 bilhão. Com o negócio, tornou-se a segunda maior empresa de carne bovina do mundo, atrás da JBS e superando a também americana Tyson Foods. A “put” teria um valor semelhante, da ordem de US$ 1 bilhão, segundo uma fonte.
Também com esse propósito de garantia extra, o empresário teve conversas com bancos para obter uma linha de crédito no modelo stand by (que não necessariamente será utilizada), apurou o Valor. A conversa de Molina com bancos como Bradesco e J.P. Morgan , entre outros, tratam da linha stand by e de outra linha, que seria pessoal para Molina. O J.P. Morgan é também o assessor da Marfrig na fusão.
Os bancos não comentam informações sobre potenciais ou atuais clientes e, nesse caso, fontes próximas a Molina são taxativas: o empresário não procurou os bancos com essa intenção, ainda que vários deles tenham batido à sua porta.
Uma das fontes diz que o ideal, para o empresário, seria já ter mais ações da Marfrig, aproveitando o desconto de seu múltiplo em relação ao da BRF e de potencial múltiplo da nova companhia. Mas seria mais difícil obter crédito na situação atual, e mais fácil obter na consolidação da nova companhia.
“Fazer esse movimento antes da fusão sair seria simplesmente aumentar sua exposição à Marfrig, não faria sentido”, complementa a fonte. Além disso, o empresário não poderia fazer esse movimento de aumento de participação na Marfrig com a negociação em andamento – o que descarta esse possibilidade.
Molina quer chegar a uma participação da ordem de 10% da nova empresa para ter uma posição confortável de influência no negócio, afirmaram duas pessoas que participam do processo.
Desde o anúncio das empresas sobre assinatura de memorando de entendimentos para potencial fusão, na quinta-feira passada, as ações da BRF caíram 5,5% e as ações da Marfrig caíram 2,8%.
Fonte: Valor Econômico