FUNDOS DÃO SUPORTE A ESTRATÉGIAS COMERCIAIS
Gleise de Castro
Com a perspectiva de expansão do mercado livre, especialmente a partir da abertura esperada para a próxima década, que deve incluir consumidores residenciais, os principais grupos de energia montam estratégias diversas para disputar uma nova onda de consumidores livres. O movimento deve começar a ganhar impulso com a redução, em vigor desde julho, dos patamares de tensão exigidos para participação nesse mercado — de 3 MW para 2,5 MW, até dezembro, e para 2 MW, a partir de janeiro de 2020.
Frederico Saliba, da Shell: potencial enorme, dado o tamanho do mercado
“O potencial é enorme, dado o tamanho do mercado consumidor, com um consumo per capita abaixo da média mundial e a expectativa de crescimento da economia”, diz Frederico Saliba, presidente da Shell Energy Brasil, comercializadora de energia do grupo Shell, criada em 2017.
Saliba afirma que a Shell não só defende como promove a abertura do mercado até a ponta do consumidor final. Até o momento, a empresa já fechou no Brasil quase mil operações de entrega imediata e futura, com perto de 700 MW médios entregues e compromisso futuro de 600 MW médios. “Nosso objetivo é nos tornarmos uma das líderes na comercialização até 2025”, diz o executivo.
Responsável hoje por suprir 3% da demanda mundial de eletricidade, a Shell pretende se tornar líder mundial até 2030, investindo também em energias renováveis e gás natural. No Brasil, em sociedade com Pátria Investimentos e Mitsubishi Hitachi Power Systems (MHPS), o grupo destinou US$ 700 milhões à construção de uma termelétrica a gás em Macaé (RJ). Com capacidade instalada de 565 megawatts, a usina Marlim Azul deve entrar em operação em 2022, com gás natural do pré-sal, produzido pela Shell.
A Delta Energia optou por um modelo de captação de recursos por meio de fundos de investimento para aplicação em operações de compra e venda no mercado livre. Foram criados dois fundos e duas comercializadoras pertencentes a esses fundos. Lançado em 2017, em parceria com o Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) e com prazo fixado em cinco anos, o fundo CSHG Delta Energia captou R$ 1 bilhão, utilizado para transações da comercializadora Beta Energia. A Beta opera tanto com operações de trading tradicional quanto na modalidade de pré-pagamento, em que paga antecipadamente ao fornecedor, mediante desconto.
No caso do Delta Energia Strategy Fundo Multimercado, constituído pelo aporte único de R$ 800 milhões de um investidor estrangeiro, os recursos serão aplicados pela comercializadora Zeta Energia, lançada no início de julho, para operar apenas como trading de energia, até 2032.
Frederico Saliba, da Shell: potencial enorme, dado o tamanho do mercado
Para reunir esses fundos e outros que deverão ser criados, a empresa lançou uma gestora de recursos, a Delta Energia Asset Management (Deam), cuja meta é atingir cerca de R$ 5 bilhões sob sua administração em até cinco anos. “A Delta vai criando uma série de filhotinhos para atrair recursos do mercado de capitais e investir no mercado de energia, o que dá maior segurança e liquidez para o próprio mercado”, diz João Carlos Guimarães, presidente da Beta Energia. Para ele, não se discute mais se o mercado vai ou não abrir, mas sim qual o cronograma da abertura. “Acreditamos que isso agora vai andar e que teremos a abertura plena na década de 2020”, afirma o executivo.
No caso da Neoenergia, a estratégia para participar do mercado livre é replicar no Brasil o modelo que sua controladora, a espanhola Iberdrola, adota no México, com o atendimento de clientes privados por meio de investimentos em novas usinas.
A empresa está trazendo uma equipe do México para ajudar na implantação do modelo no Brasil, conforme disse, em maio, o presidente do conselho de administração da empresa, Ignácio Galán. A empresa, que reúne as distribuidoras Coelba (BA), Celpe (PE), Cosern (RN) e Elektro (SP), vai investir R$ 30 bilhões no país em cinco anos, em todos os segmentos em que atua. A Neoenergia aposta ainda na geração de energia renovável, principalmente eólica.
“A abertura de mercado é um movimento global e de grande importância para a indústria de energia como um todo, com potencial para melhorar a competitividade da indústria nacional”, diz Carlos Baccan, sócio-diretor da comercializadora Focus Energia, que opera no mercado livre, na gestão de energia e operações estruturadas e também com geração.
A empresa se prepara para atender o mercado de varejo. Já tem licença para atuar como comercializadora varejista e está expandindo a geração própria. Entre suas metas estão crescimento anual de 30% na base de clientes, implantação de projetos de geração para o mercado livre e geração distribuída.
Fonte: Valor Econômico