DESDE 2013 SETOR FECHOU 62,7 MIL VAGAS
Thais Carrança
O setor bancário registrou saldo negativo de 2.057 postos de trabalho formal de janeiro a junho deste ano. Desde 2013, o setor perdeu 62,7 mil empregos com carteira assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Conforme o Dieese e especialistas em mercado de trabalho, trata-se de uma nova onda de reestruturação do setor, ligada ao processo de crescente digitalização das transações bancárias e ao encolhimento dos bancos públicos. A onda recente, no entanto, ainda é menor do que aquela registrada na década de 1990, quando o emprego nos bancos encolheu em meio ao fechamento de instituições nacionais e da estabilização da inflação no país.
Somente no segundo trimestre, três grandes bancos anunciaram programas de demissão voluntária (PDV): Caixa, Banco do Brasil e Itaú. Mas a primeira decidiu adiar os planos para atender à demanda dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O saldo negativo do setor bancário no semestre é resultado de 15,2 mil admissões e 17,3 mil desligamentos. No mesmo período, o país registrou saldo positivo de 374 mil empregos com carteira assinada, considerando a série do Caged sem ajuste para incluir dados entregues com atraso pelas empresas. Já o setor de serviços gerou sozinho 252 mil vagas.
Por unidades da federação, os piores saldos para o setor bancário no período foram registrados no Rio de Janeiro (-732 postos), Rio Grande do Sul (-722) e no Distrito Federal (-274). Somente cinco Estados registraram saldos positivos, com destaque para São Paulo (553 vagas) e Pará (166).
Por setor da atividade, os bancos múltiplos com carteira comercial – categoria que inclui instituições como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – registraram o pior saldo no período, com fechamento líquido de 1,7 mil postos. Já a Caixa reduziu seus quadros em 489 trabalhadores de janeiro a junho.
Por faixa etária, a abertura de postos bancários concentrou-se nas faixas entre 18 e 29 anos, com criação de 5.286 postos. Acima de 30 anos, todas as faixas apresentaram saldo negativo, com destaque para a faixa de 50 a 64 anos, com perda de 3.213 postos.
As demissões sem justa causa representaram 53,9% do total de desligamentos do setor no primeiro semestre. Já as saídas a pedido do trabalhador – categoria que, segundo o Dieese, inclui os funcionários demitidos em PDVs – representaram 34,6%.
“A onda recente de demissões no setor bancário está muito mais relacionada à migração para o digital do que à recessão”, afirma Vivian Machado, economista e técnica do Dieese na subseção da Contraf-CUT. Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), atualmente, de cada 10 transações bancárias, seis são feitas por meios digitais, como celulares e computadores.
Helio Zylberstajn, professor da FEA-USP, tem avaliação semelhante, de que trata-se de um fenômeno estrutural e não conjuntural. O especialista avalia, porém, que o nível de desligamentos atual ainda é reduzido, considerando o estoque total de empregos do setor, e em relação à grande reestruturação do segmento, ocorrida nos anos 1990.
Segundos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), também compilados pelo Dieese, o estoque de empregos celetistas no setor chegou a quase 1 milhão ao fim da década de 1980. Em 1990, as vagas no setor somavam 732 mil, caindo a 393 mil em 2001, recuo de 46%. No período seguinte, com a expansão do crédito, os bancos voltaram a contratar e o saldo de empregos chegou a 513 mil vagas em 2012. Desde 2013, o segmento registrou saldos negativos no emprego formal todos os anos, segundo os dados do Caged.
Zylberstajn avalia que a tendência de redução de quadros no setor bancário deve continuar nos próximos anos. “A mudança de governo claramente aponta para uma redução do tamanho do setor público no mercado financeiro, que se soma à competição com bancos digitais e ao avanço da tecnologia”, afirma, citando ainda o avanço da terceirização, que reduz o emprego direto pelas instituições financeiras.
O professor da USP destaca, porém, que, se por um lado a transição tecnológica destrói empregos, por outro, ela cria novas ocupações ligadas à construção, manutenção e operação das novas iniciativas digitais. Vivian, do Dieese, é menos otimista. “A tecnologia muito mais destrói do que cria empregos”, afirma.
Procurada, a Febraban destacou que 42% dos desligamentos realizados pelas instituições financeiras entre 2008 e 2018 foram “por motivos sobre os quais os bancos não têm controle” como demissões a pedido, por aposentadoria e por morte do empregado. “Vale mencionar que o sistema bancário apresenta o menor índice de rotatividade do mercado de trabalho do país”, diz a federação, acrescentando que a permanência média dos empregados é de mais de oito anos numa mesma instituição.
Fonte: Valor Econômico