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Boticário espera volta ‘ao normal’ em até 18 meses

Presidente do grupo diz que venda on-line não vai ser suficiente para impedir uma retração no faturamento este ano

Grynbaum, presidente do Grupo Boticário: “O brasileiro é PhD em crise, mas a pandemia pegou todos de calças curtas” — Foto: Claudio Belli/Valor

A quarentena impôs ao Grupo Boticário seus primeiros dias de faturamento zero em 43 anos de operação. Com 4 mil lojas no país fechadas há 50 dias, o empresário Artur Grynbaum suspendeu lançamentos de produtos para preservar seu fluxo de caixa e o dos franqueados. Enquanto isso, revê estratégias esperando que o comércio volte ao normal em até 18 meses.

“Esta crise chegou de forma avassaladora para todo mundo. Até o início de março estava indo tudo bem para o setor de beleza, que é atrelado à renda. […] A receita zero nunca tinha acontecido, nem mesmo com problemas de troca de sistemas” . Fábricas e distribuição reduziram o ritmo.

O grupo se prepara para um Dia das Mães mais fraco. A data é a segunda mais importante em vendas para fabricante, depois do Natal, mas o empresário não acredita que este será o pior Dia das Mães da história. As vendas on-line têm crescido até quatro vezes, sendo 39% dos clientes que fizeram compras no canal eram novos.

A companhia paranaense, dona das marcas marcas O Boticário, Eudora, Beautybox, Vult, Multi B, Beleza na Web e quem disse, berenice?, revisou a estratégia para reduzir despesas, rever o plano de investimentos, garantir a segurança dos funcionários e parceiros, além de contribuir com a população vulnerável.

Neste período, o comércio eletrônico e a venda direta ajudaram a manter a empresa ativa. “Aproveitamos as revendedoras e as lojas para ativar as vendas distribuindo cupons de desconto para as compras pelo site. Fizemos uma mudança rápida no formato e algumas iniciativas estavam em versão beta”, afirmou o empresário.

Contudo, estes canais de vendas não serão suficientes para impedir uma queda no faturamento em 2020. Grynbaum, que é acionista do Grupo Boticário ao lado do fundador Miguel Krigsner, afirmou que este será um ano perdido em termos de crescimento. “Terá retração nas vendas ante 2019.”

Em 2019, as vendas totais somaram R$ 15,3 bilhões, aumento de 11,7%, impulsionado pela aquisição da loja virtual Beleza na Web. Sem considerar a compra, o faturamento subiu 9%, para R$ 14,9 bilhões. “Existe uma ansiedade para reabrir o comércio, mas serão necessários mais cuidados para retomar as atividades”, disse o empresário.

É fato que o comportamento do consumidor está mudando com a crise desencadeada pela covid-19. Grynbaum observou que a preferência será por produtos mais baratos. Agora, os itens mais comprados são álcool em gel e sabonete. Depois, vêm xampu e desodorante. Mas com os salões de beleza fechados, cresceu também o consumo de tinturas para cabelos.

Para o acionista do Grupo Boticário, o chamado “efeito batom”, que supõe gastos com beleza em época de crise para elevar a autoestima, “ainda não foi ativado”. Em crises anteriores, a venda deste item ainda resistia ao cenário econômico ruim, mas as lojas não estavam fechadas como agora.

Outro efeito da pandemia na estratégia do principal rival da Natura em vendas diretas é a análise de alvos para aquisições. A companhia, que estudava fazer uma oferta pela operação brasileira da Coty, dona de marcas como Monange, Bozzano e Risqué, suspendeu a análise de potenciais alvos.

“Não tem nada mapeado agora. Olhava coisas antes, mas não damos andamento neste momento”, disse Grynbaum.

Em fevereiro, ele disse que a filial da Coty poderia representar uma oportunidade para elevar a participação em produtos para cabelos e para estar mais presente em supermercados, canal em que o grupo atua de forma experimental com a marca Vult, em algumas lojas do Carrefour.

À época, Grynbaum afirmou: “estamos analisando esta oportunidade, mas não significa que temos a obrigação de comprar”.

Perguntado sobre as principais lições desta crise, o empresário respondeu que são ter responsabilidade com o caixa e olhar com atenção para os fornecedores e parceiros. Porque não adianta suspender os pagamentos neste momento e que é preciso tratar toda a cadeia com responsabilidade.

“O brasileiro é PhD em crise, mas a pandemia pegou todos de calças curtas. Ver tudo fechado foi algo vivido pela primeira vez”, afirmou Grynbaum.

 

 

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