Metade dos principais grupos do país vende ativos para pagar dívida
Metade dos principais grupos do país está vendendo empresas ou participações para pagar dívidas, principalmente os títulos emitidos no exterior (bonds), segundo levantamento da Fitch junto às 150 companhias monitoradas pela agência de risco.
“Os grupos estão se desfazendo do que não faz parte do negócio principal”, afirma Mauro Storino, diretor sênior da área de empresas da Fitch.
A situação já deixou em alerta os bancos privados, que nos últimos anos emprestaram cerca de R$ 1,1 trilhão só para esses grupos. Com a recessão, o primeiro passo foi renegociar as dívidas.
O Banco Central já vinha captando essa movimentação. Somente entre julho e dezembro de 2015, houve um aumento de 6,7% para 7,6% no saldo renegociado da carteira de crédito das empresas.
Para evitar o calote e o aumento de reservas para cobrir perdas, os bancos optaram por oferecer condições de pagamento que antes estavam fora de questão. Deixaram, por exemplo, que o pagamento da dívida principal -que normalmente entra no cálculo da parcela- fosse adiado por um ano. Mas muitas empresas descartaram a renegociação porque o custo financeiro das operações aumentou cerca de 30%.
Por isso, após muitas medidas de contenção, como corte de investimentos e de dividendos, várias companhias decidiram “queimar caixa” e pagar dívidas. O resultado é que a taxa de rolagem (renegociação) caiu de 56%, no primeiro semestre de 2015, para 38% no mesmo período deste ano. A situação abrange diversos setores, além das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato.
A Eletrobras está se desfazendo das distribuidoras. Com uma dívida de R$ 11,7 bilhões, a mineira Cemig pode sair das usinas de Belo Monte e Santo Antônio. No Paraná, a Copel, que já tinha reduzido dividendos para manter investimentos, agora está se desfazendo da fatia na Sanepar (empresa de saneamento). Para conseguir um empréstimo de US$ 300 milhões, a Gol deu boa parte de suas ações no programa de fidelidade Smiles para sua parceira americana Delta.
Para Storino, o impacto do “feirão” na taxa de rolagem de dívidas medida pelo BC só deve começar a aparecer no último trimestre.
Segundo os bancos privados, o que mais pressiona as empresas atualmente são os vencimentos dos títulos emitidos no exterior. O levantamento da Fitch mostra que o estoque desses papéis com vencimentos até 2030 é de US$ 96 bilhões (cerca de R$ 312 bilhões) -mais de dois terços da dívida total das empresas no exterior é de bonds.
Até o final de 2017, as empresas têm de pagar US$ 11,2 bilhões (R$ 36,4 bilhões)
Fonte: Folha de SP