Notícias

A locação de residências e de veículos para viagens com a família também terão maior relevância nesse novo cenário. Empresários são ainda unânimes em dizer que os cuidados com a desinfecção de ambientes, reforçados durante a pandemia, permanecerão como padrão de higienização no pós-pandemia.

Nas operadoras de turismo, a relação entre operação digital e atendimento em lojas físicas será mais equilibrada. “A tendência é ter um híbrido de físico e digital. As empresas puramente on-line vão perder espaço para as empresas híbridas. Nada supera o contato humano”, afirma Roberto Haro Nedelciu, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).

Ele acrescenta que as empresas com operação mista atenderam melhor os clientes que tiveram as viagens canceladas na pandemia e estão em situação financeira um pouco melhor que suas rivais puramente digitais ou físicas.

Em 2020, as operadoras de turismo do Brasil registraram queda de 73% no faturamento, para R$ 4 bilhões. A Braztoa espera para este ano um desempenho de vendas similar ao do ano passado, com retomada dos níveis de 2019 entre 2023 e 2025, dependendo da velocidade com que o Brasil controlará a pandemia.

Nedelciu também diz que cresce a busca por destinos de natureza, como Pantanal, Amazônia, Chapada dos Veadeiros, Jalapão e Serra Gaúcha. As praias do Nordeste se mantêm na lista dos destinos mais buscados, antes, durante e após a pandemia.

A CVC Corp, maior grupo de turismo da América do Sul, acrescenta a esse cenário a consolidação do turismo ‘bleisure’ e o aluguel de casas para temporadas. “As empresas estão partindo para o modelo híbrido de trabalho no escritório e remoto. Nesse cenário, as viagens que misturam trabalho e lazer vão crescer”, diz Leonel Andrade, presidente da CVC. Ele relata que avança a procura por aluguel de casas para temporada. “Hoje o profissional aluga uma casa e trabalha remotamente, enquanto a família aproveita as férias”, diz.

A CVC reportou em 2020 uma queda de 66,9% nas reservas confirmadas na operação brasileira, resultado acima da média do mercado. Andrade estima uma retomada mais forte do turismo já a partir de outubro deste ano.

O Grupo Arbaitman, que reúne as empresas Maringá Turismo, Central Eventos e Lemontech, estima que no cenário pós-pandemia as viagens serão mais longas. “Haverá um aumento no número de dias que a pessoa viaja, para aproveitar melhor os eventos, a gastronomia, os passeios”, afirma Marcos Arbaitman, presidente do grupo.

Já o segmento de viagens de negócios, que representava 60% do setor de turismo antes da pandemia, será menor, de acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp). “Considerando o que vemos na Ásia, onde a pandemia está mais controlada, quando a situação se normalizar no Brasil o mercado de viagens de negócios vai ser de 20% a 30% menor em relação a 2019”, estima Gervasio Tanabe, presidente executivo da entidade.

O segmento de viagens de negócios encolheu 67,4% em 2020, com receita de R$ 3,7 bilhões. Tanabe diz que o mercado de eventos de empresas deve seguir reduzido após a pandemia, substituído pelos eventos on-line. E grandes eventos como congressos e feiras tenderão a ser híbridos, com transmissão ao vivo pela internet.

Entre os segmentos do turismo, a hotelaria é uma das mais afetadas. Hoje, a média de ocupação de quartos está entre 8% e 10%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih Nacional). Manoel Linhares, presidente da entidade, diz que a retomada será lenta e gradual.

A Accor, maior rede no país, com 320 hotéis, vê uma normalização no turismo de lazer em 2022 ou 2023. Já o turismo de negócios só volta ao normal em 2024 e, mesmo assim, será um mercado 10% menor do que era antes da pandemia, estima Thomas Dubaere, CEO Accor América do Sul.

“A pandemia deixou vazios os salões de eventos. A primeira mudança foi transformar esses espaços em ambientes de coworking, ou trabalho compartilhado. O investimento em áreas de coworking é uma tendência que sobreviverá à pandemia”, afirma Dubaere. A Accor já transformou espaços para oferecer o coworking em cem dos 394 hotéis que possui na América do Sul.

A Atlantica Hotels, segunda maior operadora no país, com 134 hotéis, também vê como tendências a conversão de quartos de hotel em escritório para uso durante o dia e novos formatos de hospedagem, para competir com aluguéis de curto prazo de residências. “Vemos também uma ampliação no prazo de estadia, graças ao home office”, afirma Eduardo Giestas, CEO da Atlantica Hotels.

A Movida, terceira maior locadora de veículos, confirma a tendência. Jamyl Jarrus, diretor executivo comercial e de marketing da Movida, diz que o tempo médio de aluguel de carros subiu de 3 a 4 dias para 7 a 8 dias no último ano. “Antes da pandemia, o viajante fazia o trajeto de avião e alugava o carro no destino. Agora ele aluga o carro para fazer toda a viagem. Para nós é positivo”, afirma Jarrus. No turismo de lazer, ele vê aumento de famílias substituindo viagens de avião e ônibus pelo aluguel de carro, para evitar o risco de contaminação. Os destinos ficam a até 500 km do local de partida.

Elvio Lupo, diretor executivo de aluguel de carros da Localiza, maior locadora do país, acrescenta a esse cenário a expansão dos negócios de assinatura de veículos, com demanda de empresas que decidiram terceirizar a frota usada para viagens de seus funcionários. Outra tendência é a digitalização dos processos de aluguel, retirada e devolução dos veículos, para reduzir os contatos do cliente com funcionários das agências.

O setor aéreo também espera um cenário de viagens mais longas, mesclando negócios e lazer, no pós-pandemia. “Haverá uma queda na viagem pura de negócios e um crescimento das viagens que combinam negócios e lazer”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).

John Rodgerson, presidente da Azul, estima que haverá menos demanda por viagens de bate e volta para trajetos curtos e mais demanda para destinos mais distantes de São Paulo e do Rio de Janeiro, como Estados do Centro-Oeste e do Norte.