EÓLICAS AVANÇAM COM NOVOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO
Sergio Adeodato
A expectativa por menores custos, riscos de operação mais baixos e ganhos de mercado na transição energética imposta pelas mudanças climáticas está turbinando a migração de grandes consumidores para o mercado livre de energia, em benefício das fontes renováveis. O movimento fora do ambiente regulado está abrindo janelas de negócios com equipamentos que tinham estacionado na crise econômica, após 2015, quando leilões promovidos pelo governo para contratar projetos de geração arrefeceram.
As mudanças na dinâmica de preços e a pulverização da base de clientes por meio de novos arranjos de comercialização de energia dão ânimo a investimentos em eólica, apesar da lenta retomada do Produto Interno Bruto (PIB). “Com a recuperação da economia já teremos como atender de imediato ao aumento do consumo energético”, afirma Rogério Zampronha, presidente da Vestas no Brasil.
A fabricante dinamarquesa de máquinas eólicas, dona de 22% do mercado global, com 103 GW, acelerou as operações no Brasil nos últimos três anos. Desde outubro fechou vendas locais que representam 2 GW, atendidos pela nova e potente turbina V-150 em parques que estão sendo construídos visando a comercialização da energia principalmente no mercado livre. Para Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos, o desafio é viabilizar soluções comerciais de longo prazo contra a volatilidade dos preços, além de investimentos em modelos de sociedade com grandes consumidores para autoprodução.
Entre 2016 e 2018, a empresa vendeu os cinco complexos eólicos que operava no país para redirecionar o capital ao mercado livre e agora está construindo dois parques, no total de 600 MW, incorporando a nova tecnologia de turbinas. Em Campo Formoso (BA), com investimento de R$ 750 milhões e previsão de início no segundo semestre de 2020, o negócio se destina a operar três anos no mercado livre e fornecer energia à mineradora Vale em contrato de 20 anos. Já nos municípios de Bento Fernandes, Caiçara do Rio do Vento, Riachuelo e Ruy Barbosa (RN), o aporte de R$ 2,4 bilhões mira basicamente consumidores livres por meio de soluções comerciais de menor risco.
“Os ventos vão suprir a demanda da retomada econômica pós-recessão, visto que o país já praticamente esgotou as fontes hidrelétricas”, diz Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Ela lembra que o setor cresceu no ambiente do mercado regulado, com 80% de nacionalização de equipamentos, via leilões promovidos pelo governo há dez anos, levando à atual capacidade instalada de 15,4 GW, contra 1,5 GW em 2011.
Em 2015, no entanto, a contratação de apenas 1 GW de eólica no leilão – diante de uma média de 2,4 GW nos anos anteriores – acendeu o alerta. “No cenário ruim do PIB, as distribuidoras se viram incapazes de projetar o consumo no longo prazo e a queda dos preços da eólica levou clientes para o mercado livre”, diz a executiva.
“A questão agora é mitigar riscos e identificar oportunidades com as novas regulações previstas para 2020, que devem interferir na formação de preços no curto prazo”, ressalta Fábio Zanfelice, presidente da Votorantim Energia. Uma estratégia, segundo ele, é o investimento em parques híbridos, com produção eólica à noite e solar durante o dia. A companhia tem 564 MW no Piauí e Pernambuco, com 90% produção já vendida no mercado regulado, e está aportando R$ 1,5 bilhão em mais 400 MW na área, para atender ao mercado livre e a autoprodução.
“Diante dos preços atraentes, a aposta tem sido antecipar a entrada em operação das usinas eólicas de olho em receitas adicionais com a venda no mercado livre no período entre o início da produção e o começo do fornecimento da energia contratada em leilão”, revela Daniel Fleury, superintendente de novos negócios da CPFL Renováveis. A empresa vendeu 69,3 MW do Complexo Eólico Gameleira (RN), no leilão de 2018, e desse total 70% foram no mercado livre.
Fonte Econômica: Valor Econômico