Investimentos e a recuperação do mercado imobiliário
Marcus Castro
Os anos de recessão e estagnação econômica foram particularmente duros para o mercado imobiliário. Diversas construtoras e loteadoras, principalmente de médio e alto padrão, viram suas contas entrarem em colapso devido aos distratos em massa.
Os preços dos imóveis, embora tenham se ficado relativamente estáveis, tiveram desvalorização real; empreendimentos foram cancelados e a ociosidade aumentou. A boa notícia é que o pior já foi superado, mas a recuperação, ainda que lenta, traz para a realidade um novo mercado, em que novos conceitos, possibilidades e modelos de negócio ganham força. As inovações, aliadas ao cenário macroeconômico de juros baixos, garantem perspectivas positivas para os fundos imobiliários.
Enquanto o valor médio do aluguel residencial em São Paulo subiu apenas 1,51% no acumulado de 12 meses (entre abril de 2018 e março de 2019, segundo o Secovi-SP) – bem abaixo do IGP-M no mesmo período -, o de imóveis comerciais caiu 1,97%, de acordo com o índice Fipezap.
A realidade é parecida em outros dos principais mercados. No Rio, a queda foi de 2,8% para residenciais e de 1,9% para comerciais e, em Belo Horizonte, de 0,1 % e 2,1% respectivamente.
Diante desse cenário, pode parecer que o investidor ficou sem opções de ativos imobiliários para alocar seus recursos. Não é verdade. Os gestores de fundos sabem que a situação no país é bastante heterogênea – e os mercados de diferentes regiões se comportam de maneiras diversas.
Já o de vendas residenciais se valorizou bem acima da média em cidades universitárias como Pelotas (3,9%) e Santa Maria (4,3%).
Além disso, a projeção econômica para diversos outros setores é positiva, como o de lajes corporativas e shopping centers. O primeiro se beneficia da redução da taxa de vacância. Já o segundo sofre impacto direto do crescimento de confiança do consumidor.
É impossível ignorar, no entanto, que novas tendências surgiram nos últimos anos e tiveram crescimento exponencial, com grandes chances de manterem a curva ascendente. É o caso dos coworkings. Esses espaços compartilhados de trabalho cresceram 48% entre 2017 e 2018, com 1.194 empreendimentos em todo o país, de acordo com o Censo Coworking Brasil. Outra novidade são os imóveis de multipropriedade, conceito novíssimo de propriedade compartilhada que, até o fim e 2018, já envolvia 80 empreendimentos no país, alta de 48% em relação a 2017, segundo estudo da Caio Calfat Consultoria.
A procura cada vez maior de imóveis por estudantes também gera oportunidades no segmento de “student housing”, unidades feitas especialmente para esse tipo de público.
Tanto os coworkings quanto os empreendimentos de multipropriedade e student housing mostram que o mercado imobiliário brasileiro vem se reinventando da mesma maneira que outros setores, apostando em produtos inovadores e que rompem com o modelo de negócio tradicional, preferindo o usufruto à propriedade.
Essas inovações, aliadas às perspectivas de melhora econômica e cenário de juros baixos, fazem com que mais brasileiros comecem a optar pelos fundos imobiliários como forma de investimento de modo a aproveitar financeiramente essas opções.
Hoje, cerca de 200 mil brasileiros investem em produtos desse segmento e esse número mantém um viés de alta. O número de emissões de fundos, em paralelo, também cresceu bastante no último ano, assim como o número de cotistas nesses produtos. Somente em janeiro de 2019, eram cerca de 400 fundos imobiliários, com um patrimônio total de quase R$ 80 bilhões. Considerando apenas os fundos listados na B3, no início do ano eram R$ 44 bilhões em 161 fundos. Já a quantidade de investidores saiu de 80 mil em 2016 para mais de 317 mil em abril deste ano.
Esse cenário em evolução reforça a característica cíclica do mercado imobiliário e suas especificidades locais. As perspectivas de um setor cada vez mais robusto e inovador cria espaço para as gestoras de fundos se especializarem e aproveitarem novas oportunidades de investimento.
Fonte: Valor Econômico