Autonomia dos “family offices” atrai investidores
Rejane Aguiar
É com base principalmente no mote da independência que as consultorias e gestoras de fortunas não vinculadas a bancos montam suas estratégias para crescer. A customização de serviços, a proximidade com o cliente e a redução da possibilidade de conflitos de interesse fundamentam o trabalho das empresas de wealth management e das assessorias para criação e manutenção dos chamados “single family offices”.
“A demanda está concentrada em mais independência, maior agilidade, acesso diferenciado aos produtos de atacado e alinhamento legítimo de interesses”, afirma Rogério Zanin, sócio da GPS Investimentos. Segundo Zanin, a estabilização da Selic em 6,5% ao ano tirou os investidores de alto patrimônio da zona de conforto – eles têm agora que procurar alternativas melhores para seus recursos. E, muitas vezes, fora dos “bancões”.
Por mais que reforcem seus limites de atuação em relação às outras atividades dos conglomerados financeiros a que pertencem, os segmentos de private dos grandes bancos podem não conseguir passar a ideia de independência total que hoje é tão cara a muitos clientes de grande porte. É exatamente nessa brecha que se abrigam as empresas de gestão de fortunas e de assessoria, casas como a própria GPS Investimentos, a Azimut Brasil Wealth Management, a TAG Investimentos, a Ineo e a Aditus Consultoria Financeira.
Os serviços por elas prestados dividem-se a depender das necessidades dos clientes. Alguns podem optar pelo modelo completo, que inclui aconselhamento, assessoria para sucessão e planejamento tributário, seleção de ativos e gestão do portfólio propriamente dita; outros podem ficar apenas com a assessoria para a estruturação e o acompanhamento dos resultados da gestão dos investimentos de um family office.
A Azimut Brasil Wealth Management oferece a gama completa de serviços. “Nossa estrutura abriga uma distribuidora de valores mobiliários e uma gestora de recursos, o que significa que o cliente pode contratar conosco todos os serviços referentes a seu patrimônio”, afirma o CEO da empresa, Antonio Costa, lembrando que o time tem, ainda, advogados, planejadores financeiros e economistas.
Costa ressalta como vantagem competitiva o fato de a casa ter total independência em relação a bancos, contando com a robustez de uma empresa internacionalmente bem estabelecida – pertence ao grupo italiano Azimut, listado em bolsa em seu país de origem. Hoje a empresa – cujas atividades locais começaram em 2015 – tem no Brasil ao redor de R$ 7,3 bilhões sob gestão e escritórios em nove cidades do país.
A regulação dos serviços prestados pelas casas independentes varia de acordo com a área em que atuam. Se englobam uma distribuidora de valores mobiliários (categoria de instituição financeira), estão sob as regras do Banco Central. Para os serviços de gestão de recursos, as normas que devem seguir são as da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que se encarrega também da fiscalização do trabalho de consultoria de valores mobiliários. Os profissionais desses segmentos devem estar devidamente credenciados para prestar os respectivos serviços.
Quando precisam de uma dose adicional de independência para fazer crescer ou perenizar seu patrimônio, os investidores podem recorrer à criação de single family offices. Nesse modelo, a ideia é montar uma estrutura particular de governança, de onde saem todas as diretrizes para os relacionamentos financeiros com prestadores de serviços diferentes.
A Aditus, por exemplo, atua na assessoria desse tipo de cliente, sendo responsável por um mapeamento dos investimentos capaz de mostrar se o portfólio está adequado aos objetivos traçados. “Não fazemos investimentos, não gerimos carteiras. Analisamos os detalhes dos ativos e verificamos sua pertinência. O trabalho é o de oferecer uma espécie de segunda opinião”, explica Leonardo Bortoloto, sócio da Aditus.
Contar com uma estrutura de governança ajuda as famílias credenciadas para integrar o segmento de private a administrar melhor seu patrimônio – há correlação entre a existência de diretrizes formais de administração e gestão do patrimônio com retornos melhores. É o que sugere o primeiro estudo brasileiro relacionado a single family offices, produzido em 2018 pela ISE Business School e pela Ineo com entrevistas com representantes de 24 deles. Essa estrutura de governança inclui pontos como a existência de um conselho de família e de um comitê de investimentos e a experiência de investimento conjunto com outras famílias.
Fonte: Valor Econômico