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Dados sustentam o futuro da saúde

Digitalização, inteligência artificial (IA), robótica, 5G, terapias individualizadas, visão de saúde populacional, integração de cuidados e democratização estão entre as ferramentas tecnológicas e tendências que transformam a saúde no planeta. Segundo a consultoria McKinsey, a pandemia mostrou a necessidade de garantir saúde para todos, com apoio de atendimento remoto, melhor produtividade médica e hospitalar, integração de dados na cadeia de cuidados e automação de processos administrativos, de atendimento e clínicos, com técnicas analíticas avançadas.

Promessas de evolução para os tratamentos se multiplicam. As vendas de terapias genéticas e celulares, por exemplo, podem crescer 40% ao ano até 2024, mas seu alto custo deve estimular novos modelos de remuneração baseados em valor, por resultados, anuidades ou assinaturas, com compartilhamento e parcerias.

A pesquisa Liderança Global da consultoria McKinsey, divulgada em abril, aponta o interesse da área de saúde em ecossistemas resilientes e flexíveis, movimentação ágil de recursos, com mais produtividade e saúde virtual.

No Brasil, a McKinsey colabora com o Hospital das Clínicas (SP) em um projeto digital apoiado pelo NHS, sistema britânico que inspirou o SUS. São 20 iniciativas com pilotos em dez cidades, como teleconsultas, visitas remotas, teleconsultoria, telemonitoramento de doentes crônicos e formação de profissionais para telemedicina, diz o presidente da comissão de inovação Giovanni Guido Cerri.

Conexões remotas permitiram o TeleUTI, com orientação de 30 UTIs a distância pelo HC, ampliação do atendimento psiquiátrico, recuperação de doentes em casa e terapia a distância, como as desenvolvidas na Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD).

A chegada do 5G vai colaborar na fase mais desafiadora: a telecirurgia robótica. A inteligência artificial, hoje em uso na plataforma de diagnóstico por imagem de covid-19 que abrange 60 hospitais, deve ter impacto em um amplo leque de procedimentos – desde compras até fluxo de doentes, assistência e tratamento.

Mas a maior modernidade que o futuro promete para a área, será falar mais de saúde do que de doença. Isso exige consciência individual, educação, preservação do meio ambiente e cidades mais propícias à saúde. “O desenvolvimento recorde de vacinas mostra haver ferramentas para prevenção. O desafio é o acesso”, afirma Cerri.

Outras dificuldades a serem enfrentadas são a busca de alternativas para cadeias de suprimentos e a melhoria em qualidade e transparência de dados. A impressão 3D, por exemplo, pode baratear materiais como próteses e órteses. Porém, a concentração de fabricação em determinados mercados resulta de políticas de governo, que também precisam ser atualizadas. Entre as lições da pandemia para o setor, está a necessidade de aumentar a resiliência e redundância da cadeia de suprimentos, uma das tendências destacadas pela Bain & Company e Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

Os efeitos econômicos da saúde, somados a condições pré-existentes de saúde ou socioeconômicas, ressaltam seu papel de infraestrutura. Outra tendência que começa a ganhar terreno é o aumento de medicina baseada em evidência e analíticos avançados, diz Luiza Mattos, sócia da consultoria. Em relação a dados, por exemplo, as mulheres foram incluídas em testes de novos medicamentos recentemente e biofármacos são baseados em populações do Hemisfério Norte.

Mas projetos como DNA do Brasil, para sequenciamento do genoma brasileiros, devem modificar o cenário. A meta é incluir o país no mapa da genômica mundial e diversificar bancos de dados com populações multiétnicas e miscigenadas, o que pode impulsionar a saúde de precisão. Coordenada pela geneticista e professora da USP Lygia da Veiga Pereira, a iniciativa que pretende sequenciar 40 mil genomas brasileiros tem parceria da Dasa e Google Cloud. Além do sequenciamento e disponibilização das informações em banco de dados públicos, o projeto busca relacionar genes com possíveis doenças e formas de prevenção.

A Dasa emprega o estudo em seu braço de genética e genômica GeneOne e ilustra a tendência de integração. A empresa incorpora laboratórios e hospitais e criou um data lake com mais de 5 bilhões de registros, 50% interoperáveis. Jornadas médicas e de pacientes estão no reunidas no aplicativo Nav. Além de telemedicina e tele educação médica, algoritmos vão indicar possibilidades como atuar em prevenção de pacientes assintomáticos, por exemplo.

“A saúde evoluiu em tecnologia médica, mas em gestão e integração do cuidado começou tarde”, diz a diretora de produtos, marketing e experiência, Andrea Dolabela. O Hospital Nove de Julho, do grupo, está iniciando a mineração de processos com inteligência artificial para dissecar a navegação do paciente no sistema e melhorar sua gestão, explica o gerente de informática médica, Leandro Costa Miranda.

No Brasil, avançam as soluções de telemedicina, telemonitoramento e IA. Mas IoT (internet das coisas, na sigla em inglês), biofármacos e inovações como comprimidos biodigestíveis e pílulas inteligentes, capazes de emitir alertas médicos e cujo número de fornecedores saltou de um para cinco em doze meses, estão distantes da população. Principalmente no atendimento público. Mas devem ser estimulados pelo interesse de investidores em modelos de performance e valor, que prevalecerão em cinco a dez anos, com compartilhamento de riscos, diz Sheila Mittelstaedt, sócia de saúde da KPMG. Isso pode ajudar a balancear prevenção e tratamentos de alto custo, com reforço de saúde de família, gestão de saúde populacional e atenção primária (APS), inclusive corporativa, acrescenta o sócio de infraestrutura, governo e saúde Leonardo Giusti.

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