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A tecnologia está transformando o emprego, e o Brasil tem de se preparar

Ninguém tem dúvida de que a redução dos níveis de desemprego no Brasil, que atinge quase 13 milhões de pessoas, deve ser colocada no topo da lista de prioridades do país. Só a volta do crescimento econômico levará a uma retomada no ritmo de contratações.

A ânsia em recuperar a economia e minimizar as consequências do problema são plenamente justificáveis. Não deve, contudo, turvar nossa visão para os efeitos da revolução tecnológica ora em curso sobre o mercado de trabalho e a premência das ações para enfrentar tal desafio.

A indústria 4.0 (ou manufatura inteligente) está transformando a forma de produzir, distribuir e consumir produtos e serviços e, por tabela, exigindo novas habilidades da mão de obra e redesenhando as relações de trabalho.

Ainda não é possível definir com precisão o reflexo disso no emprego. Segundo estudos como o produzido pelo Citibank e a Universidade de Oxford com dados do Banco Mundial, o efeito será devastador. A conclusão é que 47% dos empregos nos EUA estão ameaçados. Nos países da OCDE e na China, os índices vão a 57% e 77%, respectivamente.

O World Economic Forum também traça um quadro dramático ao estimar que 65% das crianças que cursam atualmente o ensino primário vão trabalhar no futuro em profissões que hoje ainda não existem.

Outra linha de visão traça um futuro menos desalentador. O Instituto Global McKinsey acredita que apenas 5% das ocupações hoje conhecidas enfrentam risco de extinção, mas adverte que a confirmação dessa projeção depende de uma acelerada adaptação dos trabalhadores.

A experiência mostra que parte dos profissionais desempregados pelo avanço da tecnologia encontra ocupação em atividades geradas por essa própria evolução, migrando do universo da produção física para o setor de serviços. Isso demandará iniciativas públicas e privadas para reciclar a mão de obra e desenvolver novas capacitações.

Inevitável também é a metamorfose nas relações de trabalho, com predominância dos chamados empregos fragmentados, ou seja, carreiras mais voláteis com ocupações temporárias vinculadas a projetos específicos e com prazo determinado. Na área de TI, esse formato de trabalho já é comum, inclusive por vontade dos mais jovens. Nesse ambiente, o trabalho baseado no vínculo empregatício perderá espaço.

Esse fenômeno, que já é fato e não apenas projeção, deve servir de estímulo para acelerar as reformas em discussão no país, sobretudo a previdenciária e a trabalhista, duas áreas fortemente impactadas.

Estamos atrasados nesse processo, tanto que tais reformas, embora urgentes e mandatórias, foram concebidas com base numa realidade já superada pelos avanços tecnológicos, cujos indícios se manifestam com força crescente na sociedade.

Cabe, então, a pergunta: o que fazer para que o país não seja atropelado pelas mudanças tecnológicas, como ocorreu em outras ocasiões?

Uma ação prioritária é investir numa nova grade curricular nas escolas brasileiras, dando ênfase às matérias que educadores resumem no acrônimo STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics) e na proficiência em inglês, idioma predominante no universo digital.

Da mesma forma, caberá ao governo criar programas de proteção para trabalhadores que, por motivos diversos, não conseguirão se adaptar ao mercado de trabalho em sua nova configuração.

As lideranças públicas (e privadas) precisam demonstrar visão estratégica para formular políticas adequadas às demandas de um futuro que rapidamente se aproxima do presente.

 

 

Fonte: Folha de SP

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